Passaram as quintas-feiras de amigos de amigas. Chegados somos à quinta-feira de compadres. Depois é a quinta-feira de comadres e estamos nos dias de Entrudo ou Carnaval.
E logo a seguir vem a Quaresma, com início na quarta-feira de cinzas.
Ainda há dias celebrámos o NATAL e, dentro em pouco, é a Quaresma. Isto referido para o povo cristão que, na generalidade, é todo aquele que habita esta ilha.
E porque assim é, atrevo-me a trazer este assunto à crónica de hoje. Não virá mal algum o recordar estes tempos que Igreja Católica, anualmente, comemora.
Mas recuemos no tempo.
Quatro semanas antes do Carnaval celebravam-se as quintas-feiras de amigos, amigas, compadres e comadres. Eram dias de confraternização e de convívio ameno. As ceias eram, normalmente, frugais, predominando a linguiça quando a matança já tinha ocorrido. Os doces que se levava à mesa não passavam de filhós ou de fatias douradas. E só. Mas bastavam para que o convívio decorresse alegre e feliz.
Entretanto, apareciam os “mascarados”, com imitações, graçolas e “sketchs”, alguns com certa dose de humor, sem deixarem de ter uns resquícios de arte.
Nas salas das “casas que recebiam mascarados”, enquanto eles não apareciam, havia alguém que dedilhava a viola ou a guitarra, tocando a chamarrita. Era então que, novos e velhos, iam para o meio da casa bailando alegremente, enquanto os mais afoitos “deitavam cantigas ao desafio”.
Tudo simples, mas sem deixar de ser alegre e comunicativo. E o serão decorria, normalmente, até à meia noite, não mais, porque o dia seguinte era de trabalho.
Aproximando-se o Carnaval, os sábados e domingos também eram destinados a “ver mascarados”, quando eles apareciam, e a bailar uma ou mais chamarritas.
Anos depois, apareceram os bailes nos salões da Filarmónica e do Grémio. A assistência era grande, vinda de diversas partes da ilha. A música era executada por bandas, quase sempre improvisadas, e constituídas por alguns artistas. Daí terem os bailes um ar mais solene e uma frequência maior e, nalguns casos, mais selecta, embora ninguém deles fosse excluído.
Eram tradição as “danças do Carnaval”, que se exibiam nos largos, das freguesias e que voltavam à rua pela Páscoa e, igualmente, nos dias do Espírito Santo. Normalmente, apresentavam uma narração em estilo de drama ou comédia. E nelas, homens vestiam de mulher porque não era permitido o elemento feminino tomar parte em semelhantes divertimentos. Eram bastante apreciadas e arrastavam consigo dezenas ou centenas de entusiastas assistentes. Ignoro se alguma freguesia da ilha ainda as apresenta.
Nas festas de Verão têm aparecido danças, à semelhança daqueles que se realizam nas festas das Sanjoaninhas de Angra, em Vila Franca do Campo, ou pelas de festas de Santo António, em Lisboa.
Felizmente desapareceu o estardalhaço do Entrudo, com água e farinha, por vezes uma brutalidade insuportável para festejar o rei momo. Resta ainda o “Bando” da Piedade que ali atrai muita gente de fora da freguesia. Alguns, na versalhada que utilizam, têm certa jocosidade; outros aproveitam a ocasião para “pôr a calva à mostra”, como dizem, daqueles que lhes são menos afeitos, aproveitando quase sempre, como motivo, uma hipotética “morte da burra”. Atitudes carnavalescas somente...
Depois, a quarta-feira de Cinzas dá início à Quaresma.
Até lá.
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